domingo, 18 de outubro de 2009

A Adversidade é a Forja dos Grandes

      « Mais custa quebrar rocha do que escavar a terra; mais sólido, porém, o edifício que nela se firmou.

      A grandeza da obra é quase sempre devida à dificuldade que se encontra nos meios a empregar, à indiferença que cerra os ouvidos do povo, e aos mil braços que logo se levantam para deter o arquitecto.
      Se cai em batalha, pobre dele, podemos lamentá-lo; mas se pelo menos a voz se lhe erguer clara, firme, heróica no meio do turbilhão, não foram inúteis as dores e os esforços: algum dia um novo mundo se erguerá das brumas e o terá como profeta.
      Quem ia a perturbar ficará perturbado, quem ia a matar ficará morto.
      Não é com os mesquinhos artifícios, nem com o desprezo, nem com a mentira, nem pelo cansaço, nem pela opressão, nem pela miséria que se vencem os que pensaram num futuro e, amorosamente, com cuidados de artista, continuamente, com firmeza de atleta, o vão erguendo pedra a pedra.
      É necessário que se resista enquanto houver um fôlego de vida, mas que essa resistência seja sobretudo o contacto com a realidade da força criadora; é esta que afinal tudo leva de vencida e reduz oposições a pó inútil e ligeiro. »
      Agostinho da Silva – in “Textos e Ensaios Filosóficos”
      Filósofo/Poeta/Ensaísta (1906-1996)
      Português (porque cá nasceu e morreu) e também Brasileiro (porque lá viveu e deixou obra)


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