segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O que é Preciso

      Mia Couto, escritor moçambicano, atualmente em Portugal, proferiu há dias a seguinte afirmação, perante a atual situação económico-social: «é preciso sair à rua, é preciso revoltarmo-nos, é precisa esta insubordinação».
      Acrescentou ainda que preferia a ingenuidade combativa dos manifestantes «à resignação que acaba por ser uma aceitação antecipada de um veredicto que é o da marginalização e o da redução ao nada».
      Recorde-se que Mia Couto foi um militante empenhado da luta pela independência moçambicana, pelo que opina «que só há que saudar gente que faça coisas e não cruze os braços, mesmo que não ainda compreenda exatamente qual é a saída. Pelo menos vem dizer que não aceita o que está a acontecer, e isso é importantíssimo.»
      Disse ainda que «há uma espécie de imposição de lógicas, que têm de ser interrogadas. Dizem-nos que o mundo está mal e que o mundo precisa do nosso sacrifício, de que entendamos a situação, mas acho que uma vez mais estão a pedir sacrifícios a quem sempre foi pedida a mesma coisa.»
      Relativamente à inversão do fluxo de emigração, a que a crise tem obrigado muitos portugueses, Mia Couto diz esperar «que este novo movimento, que já não é só de sul para norte, mas também de norte para sul, de este para oeste, nos coloque numa situação de maior partilha, numa condição mais igualitária do que no passado». E esclareceu: «Não que eu fique contente com a crise que está acontecer neste centro que é a Europa, mas o que se passa é a emergência de outro centro. O Brasil é esse centro, e por isso joga um papel decisivo dentro desta família de língua portuguesa».
      Não deixa no entanto de reconhecer que Portugal continua a desempenhar o papel de «porta-giratória» da Lusofonia, no que à cultura diz respeito. «Para que eu conheça o que está a ser publicado em Angola, em Cabo-Verde, em São Tomé, eu tenho de vir a Portugal. Nós não temos contactos diretos. A nível de África são muito escassos e o Brasil, embora menos, também depende do que se passa em Portugal.»

Sem comentários:

Enviar um comentário