segunda-feira, 2 de abril de 2012

Sonhar é um Treino para a Vida

      O cientista que contrariou a teoria dos sonhos de Freud (Allan Hobson), está em Portugal para abrir o 9.º Simpósio sobre o cérebro da Fundação Bial, a partir do próximo dia 28 de março, constituindo uma oportunidade para ouvi-lo defender que quando sonhamos estamos «a treinar».
      O “Sono e os Sonhos” é o tema do Simpósio “Aquém e além cérebro” e decorrerá no Porto. Hobson afirma que «O sono é algo muito elaborado, a única coisa que se perde é consciência, mas a consciência no máximo ocupa cinco por cento da atividade cerebral». 
      O cientista debruçou-se sobre os sonhos para concluir, por exemplo, que quando conservamos a visão durante o sono, conseguindo formar imagens perfeitas, aquilo que o nosso cérebro está a fazer «no fundo é treinar a visão e isso é muito importante que ele faça». «A minha teoria é que não poderíamos ver se não fosse o sono REM (Rapid Eye Movement), sem aquilo que considero ser o sistema a trabalhar “off line” ou a criação de uma realidade virtual para o cérebro. E não é só a visão é também, por exemplo, a locomoção, todos os sonhos são animados, nós nunca ficamos quietos, sonhamos sobre correr, andar, mesmo voar, é como um programa de ensaio para o cérebro, é muito sobre integrar visão e movimento o que não coisa fácil, é um grande trabalho». 
      O cientista que formulou esta teoria da «protoconsciência» que serve para o desenvolvimento e manutenção da «consciência desperta», lembrou que «nós vemos a consciência como algo que só existe depois de acordarmos», mas aquilo que tentou explicar «é que sonhar é uma outra forma de consciência, que precede no tempo o estado consciente». 
      Para Allan Hobbes, essa atividade «começa a acontecer no útero, na terceira semana de desenvolvimento do feto, num momento em que certamente não regista significativos efeitos do meio que o rodeia, ou seja, o cérebro já se está a preparar para estar consciente e está a “correr programas” como um computador que se prepara para o trabalho do dia seguinte». 
      O neurocientista publicou em 1977 com Robert McCarley, um estudo em que concluiu que os sonhos são mudanças bioquímicas e impulsos elétricos aleatórios que agitam o cérebro enquanto dormimos, sem qualquer significado no sentido que Freud lhes deu. Só que quando acordamos a nossa consciência, habituada a que tudo faça sentido, força uma «narrativa» para dar alguma lógica a esses impulsos. 
      Apesar de ser apontado como o «maior provocador no campo dos estudos dos sonhos» Hobbes afirmou que faz «o que Freud queria fazer, mas que em 1895 não podia, porque não sabia nada sobre o cérebro, por isso estava obrigado a elaborar a sua teoria dos sonhos a partir de especulação». Para ele, “A interpretação dos sonhos” (de Freud) «é um grande livro, mas não há ali nada de científico sobre os sonhos». 
      Se dormir e sonhar é para Allan Hobbes tão importante, ele não acha que estejamos obrigados a dormir as aconselhadas sete horas. «Não percebo porque é que o sono deveria ser uniforme quando nada é uniforme na biologia», sustentou. Aconselhou a quem «dorme 11 horas não deve tentar ser uma pessoa que dorme 4 horas porque é como tentar ser basquetebolista sendo muito pequeno». Por outro lado, as escolas de medicina, por exemplo, deviam perguntar se uma pessoa dorme muito ou pouco: «Quem dorme pouco deveria ser favorecido em profissões que limitam o sonho». 

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